Às vezes, minha mente inquieta só precisa do silêncio da lida. Aqueles pequenos barulhos que não incomodam tanto assim, como a britadeira na rua, a furadeira do apartamento ao lado ou acima, talvez pendurando um quadro ou montando um móvel, não sei. Só sei que esses pequenos barulhos não me incomodam tanto quanto aqueles que me deixam, vamos dizer, nervoso... Este mês tão atípico – dezembro – deixou de ser, ao menos para mim, um mês esperado; pois somente eu sei o quanto de desesperador ele se torna a cada ano devido à quantidade de compromissos que me aguardam... Dezembro... você precisa ser mais paciente comigo... please... Eu mal acordo e o celular já me chama... São notas, são recados, são reuniões, coisas a se resolver, livros novos... E eu acho tudo isso muito bom. Eu adoro, mas... é preciso dar um tempo ao tempo e fazer tudo com mais calma e pausadamente... Parece até piada eu escrevendo isso... eu que sempre corro, que acelero, que sequer mudo a marcha e estou sempre na quinta. De-sa-ce-le-ra, menino! Mas o menino não ouve. Talvez porque de menino não tenha mais nada. É um senhorzinho que comanda o computador e é por ele comandado. Ai, dezembro, vira logo janeiro, assim minhas indagações serão outras, minha alegria será outra e meu desespero também será outro. No momento, quero olhar para a águia e fazer dela uma linda capa. Voar nos poemas novos que me mandaram e depois descansar num novo livro, depois outro, depois outro e outro e outro... Para quem sabe, então, depois disso tudo, pensar nos meus... Dezembro me cansa! Mas eu amo tudo isso!
Um dos textos do livro "Na solidão das palavras eu me encontro", publicado em 2019 e lançado oficialmente em Lisboa, na 89ª Feira Internacional do Livro de Lisboa.
No mundo das ideias e das letras deve estar ecoando: “e agora?” Será que a magia foi-se embora? Será que o tempo trará um novo escritor que com seus textos comoverá o mundo ao apresentar personagens, situações e conflitos?
Encontrei-me com Amado hoje à tarde. Conheci um pouco mais de suas obras que venho lendo desde miúdo. Gabriela, Tieta, Dona Flor e os capitães de areia... E tudo se foi com o vento, em Itapuã, no Rio Tejo, no cais do Sodré... e fiquei a provar pastéis de nata.
Conheci Saramago e encantei-me ainda mais. Todos os livros que publicou. Aliás, que o mundo publicou. Todos expostos na parede. Todos me pedindo atenção e clamando-me: “conte ao mundo sobre nós, não se esqueça...” E eu chorei sem nem mesmo ter motivo. Sem nem mesmo ter lido as obras. Sem sequer ter conhecido o escritor. Mas talvez por ter sido abraçado por uma amiga sua, cuja amizade remete há mais de 30 anos. O passo do elefante, a morte de Ricardo Reis, o memorial, o evangelho... as coisas que o escritor viu, sonhou e escreveu. Como bem disse Pessoa: “Deus quer, o homem sonha. A obra nasce”.
São as obras literárias também obras de Deus? São sopradas aos ouvidos dos escritores as histórias que percorrem o mundo? São os personagens almas que viveram ou vivem nesta Terra?
Eu realmente ainda não sei. Eu não sei nada e não compreendo nada.
Sei que “é engraçado a força que as coisas têm quando elas precisam acontecer”, frase de Caetano que sempre admirei e admiro.
Sei que o caminho que trilho nunca foi fácil mas hoje parece estar em uma escada rolante. Vou apenas observando, contemplando com calma e esperando o resultado que virá. Isso se vier. Isso se a resposta já não me chegou.
E estou pleno.
Com a alma levitando e caminhando nas palavras que os deuses me sopram aos ouvidos. Tudo vale a pena... e eu aprendi com Pessoa que devemos persistir nos nossos sonhos, que eles têm lá a sua razão. Que para acreditar basta apenas crer. Que a fé, sempre necessária, move o avião e me traz para cá, Portugal, apenas para entender um pouquinho mais do que tenho a fazer.
E eu tenho de escrever e publicar livros. Meus e dos escritores que me procuram. Que a palavra liberta. E que ser livre é o melhor de todos os sonhos, afinal... “eu tenho em mim, todos os sonhos do mundo” (FP)
"Em fora de mim, perto do céu, o autor faz o convite a uma viagem literária emoldurada por delicadas imagens em preto e branco, com detalhes do país tão bem conhecido por ele - Portugal. Lá as dascobertas e impressões foram tão arrebatadoras que certamente apenas um livro seria pouco para dar vazão á afinidade nascida desta escolha. Grande o suficiente para não sucumbir à distância."
[ Ana Cláudia Rêgo ]
Escritora
Fora de Mim Perto do Céu ao se descortinar página a página, deixou o mundo interno e abstrato da pessoa que o escreveu para percorrer o paraíso concreto da vida real que ainda pulsa flamejante no olhar do escritor Márcio Martelli. Uma prosa poética que foi decantada com encanto.
[ Josyanne Rita de Arruda Franco ]
Médica, psicanalista e escritora
Copyright © 2023 marciomartelli.com – Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por GoDaddy Criador de Sites
Usamos cookies para analisar o tráfego do site e otimizar sua experiência nele. Ao aceitar nosso uso de cookies, seus dados serão agregados com os dados de todos os demais usuários.